quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mercadante sobre o Butantan: Crime contra a ciência e o patrimônio público

No ano passado, o Mistério Público Estadual constatou um desvio de R$ 35 milhões no Butantan.

O incêndio do Instituto Butantan, ocorrido neste último fim de semana, destruiu a maior e mais importante coleção científica de ofídios do mundo, iniciada há 120 anos. Eram 535 mil espécimes, que constituíam o maior banco de dados sobre ofídios do planeta. Além disso, o acervo de aracnídeos, que reunia mais de 450 mil espécimes, também foi devastado. Com base nesses riquíssimos e únicos acervos, construídos por centenas de pesquisadores ao longo de mais de um século, milhares de trabalhos científicos foram publicados no mundo inteiro. Milhares deixarão de ser publicados por causa dessa tragédia. Por isso, o curador da coleção de serpentes, Francisco Luís Franco, chegou, com certa razão, a comparar a tragédia do Butantan ao incêndio da Biblioteca Real de Alexandria, que destruiu boa parte do acervo bibliográfico da antiguidade.

Os funcionários e pesquisadores lutam, agora, para tentar recuperar parte desses acervos destruídos.

O pior é que essa foi uma tragédia anunciada. Em dezembro do ano passado, o Butantan pediu a Fapesp R$ 1 milhão para implantar um novo sistema de segurança que previa instalação de sistemas de detecção de fumaça e de combate automático a incêndio. Não foi atendido. Na realidade, esse problema, que se acumula há anos, já deveria ter sido resolvido com recursos do Executivo estadual. Esse descuido tem sido recorrente. Outros museus e instituições de pesquisa do Estado estão em situação semelhante: carentes de recursos, sem funcionários em número suficiente, com instalações elétricas e hidráulicas precárias, e instalações físicas em péssimas condições de conservação, eles estão sujeitos a sofrer graves acidentes a qualquer momento, deixando como saldo, além de perdas materiais, prejuízos tecnológicos, científicos e culturais irreparáveis.

No ano passado, o Mistério Público Estadual constatou um desvio de R$ 35 milhões no Butantan. Com esses recursos, teria sido possível resolver todos esses problemas. É necessária uma medida emergencial para garantir a preservação dos acervos culturais e científicos, além de um amplo programa de recuperação e fortalecimento das instituições de pesquisa e inovação do Estado de São Paulo.

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